Olha a que ponto de alienação e desinformação chegamos!
segunda-feira, 14 de novembro de 2016
domingo, 11 de setembro de 2016
sábado, 19 de março de 2016
terça-feira, 23 de fevereiro de 2016
domingo, 21 de fevereiro de 2016
quarta-feira, 20 de janeiro de 2016
Pierre Lévy: a revolução digital só está no começo
"É
absurdo imaginar que um instrumento que aumenta os poderes da linguagem em
geral pudesse favorecer somente a verdade, o bem e o belo. É preciso sempre
perguntar: verdadeiro para quem? Belo para quem? Bem para quem? O verdadeiro
vem do diálogo aberto aos diversos pontos de vista. Direi até mais do que isso:
se tentássemos transformar a internet numa máquina de produzir somente a
verdade, o belo e o bem, só chegaríamos a um projeto totalitário, de resto,
sempre fadado ao fracasso."
Em
entrevista, o filósofo da informação Pierre Lévy faz um balanço de pouco mais de três
décadas de web, a teia global, o hipertexto, a navegação na rede ao alcance de
todos.
O desenvolvimento da internet levou mais tempo do que normalmente
se imagina. Com o surgimento da web, há aproximadamente 30 anos, porém,
aconteceu uma explosão. Pode-se dizer que o mundo, de fato, entrou numa nova
era? Há muito ainda para surgir ou esse ciclo, com tudo o que ele comporta, já
bateu no teto?
Pierre Lévy: De qualquer maneira, a internet se expandiu mais rapidamente do que qualquer outro sistema de comunicação na história. No começo dos anos 1990, havia 1% da população mundial conectada. Uma geração depois, já eram 40%. Avançamos rapidamente para 50% e mais… Estamos apenas no começo da revolução do meio do algoritmo. Nas próximas décadas, acompanharemos várias mutações. A computação ubíqua, que já faz parte da nossa paisagem, vai se generalizar fazendo com que a maioria esteja permanentemente conectada. O acesso à análise de grandes quantidades de dados, hoje nas mãos de governos e de grandes empresas, vai se democratizar. Teremos cada vez mais imagens de nosso funcionamento coletivo em tempo real. A educação vai se focar na formação crítica e no tratamento coletivo de dados. A esfera pública será internacional e se organizará por nuvens semânticas nas redes sociais. Os países passarão da forma “Estado-nação" para constelações de Estado, com um território soberano e uma zona desterritorializada na infosfera de conexão total. As criptomoedas, moedas digitais criptografadas, vão se disseminar.
Pierre Lévy: De qualquer maneira, a internet se expandiu mais rapidamente do que qualquer outro sistema de comunicação na história. No começo dos anos 1990, havia 1% da população mundial conectada. Uma geração depois, já eram 40%. Avançamos rapidamente para 50% e mais… Estamos apenas no começo da revolução do meio do algoritmo. Nas próximas décadas, acompanharemos várias mutações. A computação ubíqua, que já faz parte da nossa paisagem, vai se generalizar fazendo com que a maioria esteja permanentemente conectada. O acesso à análise de grandes quantidades de dados, hoje nas mãos de governos e de grandes empresas, vai se democratizar. Teremos cada vez mais imagens de nosso funcionamento coletivo em tempo real. A educação vai se focar na formação crítica e no tratamento coletivo de dados. A esfera pública será internacional e se organizará por nuvens semânticas nas redes sociais. Os países passarão da forma “Estado-nação" para constelações de Estado, com um território soberano e uma zona desterritorializada na infosfera de conexão total. As criptomoedas, moedas digitais criptografadas, vão se disseminar.
Fala-se muito em internet dos
objetos e em internet total. São verdadeiras mutações ou apenas acelerações?
Pierre Lévy: A internet pode ser analisada em dois aspectos conceitualmente distintos, mas praticamente interdependentes e inseparáveis. Por um lado, a infosfera, os dados, os algoritmos, imateriais e ubíquos. São as nuvens. Por outro lado, os receptores, os gadgets, os smartphones, os dispositivos móveis de todos os tipos, os computadores, os data-centers, os robôs, tudo aquilo que é inevitavelmente físico e localizado: os objetos. As nuvens não podem funcionar sem os objetos. Os objetos não podem funcionar sem as nuvens. A internet é a interação constante do localizado e do desterritorializado, a interação dos objetos e das nuvens. Tudo isso pode logicamente ser deduzido da automatização da manipulação do simbólico por meio de sistemas eletrônicos. Sentiremos cada vez mais, de agora em diante, as consequência disso tudo em nossas vidas cotidianas.
Pierre Lévy: A internet pode ser analisada em dois aspectos conceitualmente distintos, mas praticamente interdependentes e inseparáveis. Por um lado, a infosfera, os dados, os algoritmos, imateriais e ubíquos. São as nuvens. Por outro lado, os receptores, os gadgets, os smartphones, os dispositivos móveis de todos os tipos, os computadores, os data-centers, os robôs, tudo aquilo que é inevitavelmente físico e localizado: os objetos. As nuvens não podem funcionar sem os objetos. Os objetos não podem funcionar sem as nuvens. A internet é a interação constante do localizado e do desterritorializado, a interação dos objetos e das nuvens. Tudo isso pode logicamente ser deduzido da automatização da manipulação do simbólico por meio de sistemas eletrônicos. Sentiremos cada vez mais, de agora em diante, as consequência disso tudo em nossas vidas cotidianas.
Depois de 30 anos de grandes
novidades – da web, o famoso www ou a teia – até as redes sociais com seus
milhões de adeptos, qual pode ser a grande mutação dos próximos tempos?
Pierre Lévy: Depois do surgimento da web, na metade dos anos 1990, não houve grande mutação técnica, somente uma profusão de pequenas evoluções e progressos. No plano sociopolítico, o grande salto me parece ser a passagem de uma esfera pública dominada pelos jornais, pelo rádio e pela televisão para uma esfera pública centrada nas “wikis", nos blogs, nas redes sociais e nos sistemas de moderação de conteúdos onde todo mundo pode se exprimir. Isso significa o começo do fim do monopólio intelectual dos jornalistas, dos editores, dos políticos e dos professores. Um novo equilíbrio ainda não foi alcançado, mas o velho sistema dominante está em franca erosão.
Pierre Lévy: Depois do surgimento da web, na metade dos anos 1990, não houve grande mutação técnica, somente uma profusão de pequenas evoluções e progressos. No plano sociopolítico, o grande salto me parece ser a passagem de uma esfera pública dominada pelos jornais, pelo rádio e pela televisão para uma esfera pública centrada nas “wikis", nos blogs, nas redes sociais e nos sistemas de moderação de conteúdos onde todo mundo pode se exprimir. Isso significa o começo do fim do monopólio intelectual dos jornalistas, dos editores, dos políticos e dos professores. Um novo equilíbrio ainda não foi alcançado, mas o velho sistema dominante está em franca erosão.
O senhor fala faz muito tempo
em inteligência coletiva e em coletivos inteligentes. Vê-se, entretanto, que as
redes sociais podem ser utilizadas para o bem e para o mal, por exemplo, para
disseminar ideias radicais e extremistas. Pode-se falar de uma inteligência
coletiva do mal e da internet como um instrumento também a serviço da estupidez
e da barbárie universais?
Pierre Lévy: Falo em inteligência coletiva para enfatizar e estimular o aumento das capacidades cognitivas em geral, sem fazer juízo de valor. Refiro-me ao aumento da memória coletiva, ao crescimento das possibilidades de gestão e de criação de redes e das oportunidades de aprendizagem em sistemas de cooperação, com acesso universal a informações e dados. Acredito que esse aspecto é inegável e que todos os atores intelectuais e sociais responsáveis deveriam utilizar essas novas possibilidades na educação, na gestão do conhecimento, nas empresas e nas deliberações políticas democráticas. É preciso inserir a internet na longa série que passa pela invenção da escrita e do impresso. Trata-se de um considerável ganho na capacidade humana de tratamento das operações simbólicas. O núcleo dessa capacidade, contudo, é a linguagem, que existe desde sempre e não depende de qualquer tecnologia em particular.
Pierre Lévy: Falo em inteligência coletiva para enfatizar e estimular o aumento das capacidades cognitivas em geral, sem fazer juízo de valor. Refiro-me ao aumento da memória coletiva, ao crescimento das possibilidades de gestão e de criação de redes e das oportunidades de aprendizagem em sistemas de cooperação, com acesso universal a informações e dados. Acredito que esse aspecto é inegável e que todos os atores intelectuais e sociais responsáveis deveriam utilizar essas novas possibilidades na educação, na gestão do conhecimento, nas empresas e nas deliberações políticas democráticas. É preciso inserir a internet na longa série que passa pela invenção da escrita e do impresso. Trata-se de um considerável ganho na capacidade humana de tratamento das operações simbólicas. O núcleo dessa capacidade, contudo, é a linguagem, que existe desde sempre e não depende de qualquer tecnologia em particular.
Graças à linguagem
existem a arte, a cultura, a religião, os valores e a complexidade das instituições
econômicas, sociais e políticas. Mas falar de linguagem significa também falar
em mentira e manipulação. Falar em valores significa falar em bem e mal, belo e
feio. É absurdo imaginar que um instrumento que aumenta os poderes da linguagem
em geral pudesse favorecer somente a verdade, o bem e o belo. É preciso sempre
perguntar: verdadeiro para quem? Belo para quem? Bem para quem? O verdadeiro
vem do diálogo aberto aos diversos pontos de vista. Direi até mais do que isso:
se tentássemos transformar a internet numa máquina de produzir somente a
verdade, o belo e o bem, só chegaríamos a um projeto totalitário, de resto,
sempre fadado ao fracasso.
Nas redes sociais, a violência
verbal é enorme. As pessoas insultam-se, ofendem-se e dividem-se, cada vez
mais, em direita e esquerda, bons e maus, os meus e os teus. Há jornalistas que
fecham os seus blogs aos comentários de leitores saturados de posts racistas e
de ameaças de todos os tipos. Essa é ainda uma etapa de aprendizagem dos
recursos de interação disponíveis?
Pierre Lévy: Se alguém me insulta ou me envia coisas chocantes no twitter ou num blog, eu bloqueio e ponto final. Certo é que nunca teremos uma humanidade perfeita. Em contrapartida, o usuário da internet não é um intelectual menor de idade. Ele tem em mãos um grande poder, mas tem também grandes responsabilidades a cumprir. O problema, sobretudo para os professores, consiste em educar esses utilizadores da internet. É preciso ensinar a estabelecer prioridades, a atrair a atenção, a fazer uma escolha justa e uma análise crítica das fontes às quais nos conectamos. Temos de prestar atenção na cultura daqueles com quem nos conectamos e precisamos aprender a identificar as narrativas feitas e as suas contradições. Essa é a nova “digital literacy" (alfabetização digital): tornar-se responsável.
Pierre Lévy: Se alguém me insulta ou me envia coisas chocantes no twitter ou num blog, eu bloqueio e ponto final. Certo é que nunca teremos uma humanidade perfeita. Em contrapartida, o usuário da internet não é um intelectual menor de idade. Ele tem em mãos um grande poder, mas tem também grandes responsabilidades a cumprir. O problema, sobretudo para os professores, consiste em educar esses utilizadores da internet. É preciso ensinar a estabelecer prioridades, a atrair a atenção, a fazer uma escolha justa e uma análise crítica das fontes às quais nos conectamos. Temos de prestar atenção na cultura daqueles com quem nos conectamos e precisamos aprender a identificar as narrativas feitas e as suas contradições. Essa é a nova “digital literacy" (alfabetização digital): tornar-se responsável.
Uma das questões mais
discutidas da internet diz respeito aos direitos de autor e a gratuidade dos
conteúdos na rede. Os internautas tendem a exigir que tudo seja gratuito. Mas a
informação tem um custo. Que vai pagar? Os jornais, cada vez mais, fecham os
seus sites deixando apenas uma parte do que produzem disponível a todos. O
tempo de pegar para consumir conteúdos chegou?
Pierre Lévy: Não é impossível fazer com que os usuários da internet paguem por bons serviços. Além disso, a publicidade e a venda de conteúdos produzidos por utilizadores a empresas de marketing constituem hoje as principais maneiras de “monetizar" os serviços na rede. O direito autoral está claramente em crise no que diz respeito à música e, cada vez mais, para os filmes. Faço questão de destacar os campos da pesquisa e do ensino nos quais os editores aparecem como os principais freios ao compartilhamento de conhecimentos. A remuneração da criação na era dos meios algorítmicos é um problema complexo para o qual eu não tenho resposta simples e válidas em todos os casos.
Pierre Lévy: Não é impossível fazer com que os usuários da internet paguem por bons serviços. Além disso, a publicidade e a venda de conteúdos produzidos por utilizadores a empresas de marketing constituem hoje as principais maneiras de “monetizar" os serviços na rede. O direito autoral está claramente em crise no que diz respeito à música e, cada vez mais, para os filmes. Faço questão de destacar os campos da pesquisa e do ensino nos quais os editores aparecem como os principais freios ao compartilhamento de conhecimentos. A remuneração da criação na era dos meios algorítmicos é um problema complexo para o qual eu não tenho resposta simples e válidas em todos os casos.
O senhor tem falado também em
democracia virtual. Já é possível falar em avanço rumo a uma nova era
democrática?
Pierre Lévy: Sim, na medida em que é possível ter acesso a fontes de informação muito mais diversificadas que no passado e na medida também em que todos podem se exprimir para um vasto público. Enfim, porque é muito mais fácil para os cidadãos colocarem-se em contato com vistas à organização, à deliberação, à discussão e à ação. Essa “democracia virtual" pode ter uma base local, como em certos projetos de “cidades inteligentes", mas há também uma desterritorialização ou uma internacionalização da esfera pública. É possível, por exemplo, acompanhar, em tempo real, a vida política de inúmeros países e de seguir pontos de vista de pessoas, sobre assuntos que nos interessem, no planeta inteiro. Não podemos esquecer as campanhas políticas que utilizam as tecnologias de análise de dados e dos perfis de marketing, assim como o monitoramento, ou até a manipulação, da opinião pública mundial nas redes sociais pelas agências de inteligência e de informação (de todos os países).
Pierre Lévy: Sim, na medida em que é possível ter acesso a fontes de informação muito mais diversificadas que no passado e na medida também em que todos podem se exprimir para um vasto público. Enfim, porque é muito mais fácil para os cidadãos colocarem-se em contato com vistas à organização, à deliberação, à discussão e à ação. Essa “democracia virtual" pode ter uma base local, como em certos projetos de “cidades inteligentes", mas há também uma desterritorialização ou uma internacionalização da esfera pública. É possível, por exemplo, acompanhar, em tempo real, a vida política de inúmeros países e de seguir pontos de vista de pessoas, sobre assuntos que nos interessem, no planeta inteiro. Não podemos esquecer as campanhas políticas que utilizam as tecnologias de análise de dados e dos perfis de marketing, assim como o monitoramento, ou até a manipulação, da opinião pública mundial nas redes sociais pelas agências de inteligência e de informação (de todos os países).
A internet já mudou a nossa
maneira de pensar, de ler e de organizar a nossa construção mental do saber?
Pierre Lévy: Isso é inegável. O acesso imediato a dicionários, enciclopédias, entre as quais a Wikipédia, livros (gratuitos ou pagos), vídeos educativos e outros dispositivos colocou à disposição de todos o equivalente a imensas bibliotecas. Além disso, podemos ser assinantes de incontáveis sites especializados e contatar redes de pessoas interessadas nos mesmos assuntos para construir saberes de modo colaborativo. O desenvolvimento de novos tipos de rede de colaboração na pesquisa ou na educação (os famosos MOOC – Curso Online Aberto e Massivo, “Massive Open Online Course") são a prova clara e definitiva disso que estou sustentando nesta resposta.
Pierre Lévy: Isso é inegável. O acesso imediato a dicionários, enciclopédias, entre as quais a Wikipédia, livros (gratuitos ou pagos), vídeos educativos e outros dispositivos colocou à disposição de todos o equivalente a imensas bibliotecas. Além disso, podemos ser assinantes de incontáveis sites especializados e contatar redes de pessoas interessadas nos mesmos assuntos para construir saberes de modo colaborativo. O desenvolvimento de novos tipos de rede de colaboração na pesquisa ou na educação (os famosos MOOC – Curso Online Aberto e Massivo, “Massive Open Online Course") são a prova clara e definitiva disso que estou sustentando nesta resposta.
Tem uma canção brasileira
famosa que diz, “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais". Depois
da internet, somos os mesmos e vivemos como nossos pais ou nos separamos deles?
Pierre Lévy: Continuamos seres humanos encarnados e mortais, felizes e infelizes. A condição humana fundamental não muda. O que muda é a nossa cultura material e intelectual. O nosso potencial de comunicação multiplicou-se e distribuiu-se no conjunto da sociedade. A percepção do mundo que nos cerca aumentou e tornou-se mais precisa. A nossa memória cresceu. A nossa capacidade de análise de situações complexas a partir de massas de dados vão, em breve, transformar a nossa relação com o meio ambiente biológico e social. Graças à quantidade de dados disponíveis e ao crescimento de nosso poder de cálculo, vamos provavelmente experimentar no século XXI uma revolução das ciências humanas comparável à revolução da ciências naturais no século XVII. Nós somos sempre os mesmos, mas mudamos.
Pierre Lévy: Continuamos seres humanos encarnados e mortais, felizes e infelizes. A condição humana fundamental não muda. O que muda é a nossa cultura material e intelectual. O nosso potencial de comunicação multiplicou-se e distribuiu-se no conjunto da sociedade. A percepção do mundo que nos cerca aumentou e tornou-se mais precisa. A nossa memória cresceu. A nossa capacidade de análise de situações complexas a partir de massas de dados vão, em breve, transformar a nossa relação com o meio ambiente biológico e social. Graças à quantidade de dados disponíveis e ao crescimento de nosso poder de cálculo, vamos provavelmente experimentar no século XXI uma revolução das ciências humanas comparável à revolução da ciências naturais no século XVII. Nós somos sempre os mesmos, mas mudamos.
Fonte - Fronteiras do Pensamento
quinta-feira, 14 de janeiro de 2016
Sociólogo diz que sociedade está ‘enfeitiçada’ pela mídia: ‘Só as versões são realidade’
Laymert: “Edward Snowden e Julian Assange entenderam que o poder está na informação que está oculta” | Foto: (Wilson Dias/Agência Brasil) |
Em debate realizado pelo
Fórum 21 nesta quinta-feira (12), na série “Seminários para o Avanço Social”, o
sociólogo Laymert Garcia dos Santos, da Unicamp, e doutor em Ciências da
Informação pela Universidade de Paris VII, afirmou que a realidade atual, com o
monopólio da informação pela mídia tradicional, é “desesperadora”. Para ele, a
sociedade está “enfeitiçada” pela manipulação. “Só as versões se tornam
realidade, ao ponto de as pessoas não saberem mais o que é real e o que não é.”
Segundo Laymert, exemplo
esclarecedor a respeito é a operação midiática de transformar a presidenta
Dilma Rousseff no objeto de ataques sistemáticos e culpada de tudo o que de
ruim acontece ou pode acontecer no país. A operação, lembra, começou na Copa do
Mundo de 2014. “Trinta ou quarenta mil pessoas na Avenida Paulista
(manifestação da esquerda em 13 de março de 2015) debaixo de chuva não é
notícia. Porque para os meios de comunicação é preciso manter no ar a ideia do
golpe. É preciso manter no ar permanentemente alguma coisa.”
O sociólogo lembra que o
início da deslegitimação de Dilma, na Copa, partiu do camarote do Banco Itaú no
estádio, onde estava a colunista Sonia Racy. “Não foi à toa que foi escolhido
esse local.” Na ocasião da abertura da Copa, no Itaquerão, em São Paulo, o
blogueiro Luiz Carlos Azenha registrou em seu blog: “Uma importante colunista
social do Estadão, sentada no camarote do Banco Itaú, gritou a plenos pulmões –
aparentemente entusiasmada – ‘Ei, Dilma, VTNC’”.
Diante da sistemática
ofensiva do oligopólio de comunicação, “não existe mais” cobertura
(jornalística), no sentido de processar informações reais. “A mídia é parte
ativa na criação de versões e ficções sobre o que acontece. O que é de fato
real soçobra.”
Entre os veículos de
comunicação que fazem parte da campanha contra o governo petista de Dilma
Rousseff, Laymert considera a Folha de S. Paulo o mais sofisticado e eficiente
na construção do discurso da negatividade. “A Folha é a mais elaborada, porque
eles estão há mais de 30 anos elaborando o discurso do ressentimento. Sempre,
em qualquer momento em que há uma positividade, o discurso é negativo. Se a
notícia é boa, existe o recurso: ‘mas…’”
A operação que se
desenvolveu nos últimos meses para proteger o presidente da Câmara dos
Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que poderia ser o condutor do impeachment
desejado pela direita do país, para o sociólogo, é absurda. “Ele (Cunha) está
apodrecendo todos os dias e não cai. Como é possível construir essas redes de
proteção? Os ladrões estão gritando ‘pega ladrão’ para quem não é ladrão.”
O grande problema, para
Laymert, é que “o outro lado não consiga responder”. Segundo a análise,
“estamos vivendo um fenômeno complicado para o qual a esquerda não tem
respostas”. Ele diz que desde os anos 1980 observa a dificuldade da esquerda em
compreender a questão midiática. Um dos principais erros de líderes petistas
foi acreditar que, quando o PT chegasse ao poder, haveria uma “troca de sinal”
e os meios de comunicação passariam a ser mais benevolentes com os esquerdistas.
Mas o que se viu foi o contrário. “Uma vez no poder, a esquerda tem uma atitude
ao mesmo tempo de submissão e fascínio pelos meios de comunicação.”
Snowden e Assange
Laymert acredita que nem
mesmo setores da mídia de esquerda, como os chamados “blogueiros sujos”,
entendem o processo midiático atual. “Os ‘blogueiros sujos’ não entendem,
embora estejam mais perto de entender, que a política hoje não é mais a
política, mas a tecnopolítica. Quem entendeu isso foram homens como Julian
Assange (do Wikileaks) e Edward Snowden”, disse o professor da Unicamp.
Ex-funcionário da agência de inteligência americana, a NSA, Snowden tornou
público que o governo dos Estados Unidos opera um sistema de vigilância que
abrange cidadãos e governos em todos os lugares do mundo que lhe interessem.
“Há uma dimensão
totalitária quanto à linguagem e a instrumentalização da linguagem política.
Não vejo como a esquerda possa reagir diante dessa ofensiva totalitária da
mídia”, diz Laymert. “Snowden e Assange entenderam que o poder está na
informação. Mais do que isso, entenderam que, ao contrário do Facebook, que
fornece mais do mesmo e satisfaz o narcisismo das pessoas, o que importa é a
informação que não se vê, que está oculta. No mundo atual, a informação real é
a que não é exposta.”
O último debate da série
promovida pelo Fórum 21 será realizado nesta sexta-feira (13), às 9h, na
Assembleia Legislativa, com o tema “Impeachment e golpe”, com a participação do
ex-candidato ao governo de São Paulo pelo Psol, em 2014, Gilberto Maringoni.
Fonte: Sul21
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